Reconstituição da laguna de Lagos na Antiguidade (clique para aumentar)
Lacobriga surge nas fontes clássicas em Pompónio Mela (In Sito Orbis: Lacobriga), Ptolomeu (Geografia: Laccobriga, com coordenadas erradas) e Plutarco (Sertório: Lacobrigenses, sem localização).
O topónimo e a referência de Ptolomeu indicam tratar-se de povoado de origem celta, localizando-se portanto no Ocidente. Não se confunde com Alvor/Ipses ou Rocha Branca/Kilibe, que são povoados turdetano, ficando assim para ocidente destes.
Ficaria igualmente a ocidente de Portus Hannibalis, segundo Mela, na zona do Barlavento algarvio (Sacro)
No entanto apenas a tradição, iniciada por André de Resende identifica Lacobriga com Lagos, não havendo quaisquer elementos epigráficos ou numismáticos conhecidos que refiram ou localizem a cidade romana.
O nome Lacobriga configura um povoado indígena num assentamento elevado, na margem ou numa ilha de um lago. No Barlavento existem apenas duas localizações mais prováveis que cumprem esses requisitos: Aljezur e Lagos.
O topónimo e a referência de Ptolomeu indicam tratar-se de povoado de origem celta, localizando-se portanto no Ocidente. Não se confunde com Alvor/Ipses ou Rocha Branca/Kilibe, que são povoados turdetano, ficando assim para ocidente destes.
Ficaria igualmente a ocidente de Portus Hannibalis, segundo Mela, na zona do Barlavento algarvio (Sacro)
No entanto apenas a tradição, iniciada por André de Resende identifica Lacobriga com Lagos, não havendo quaisquer elementos epigráficos ou numismáticos conhecidos que refiram ou localizem a cidade romana.
O nome Lacobriga configura um povoado indígena num assentamento elevado, na margem ou numa ilha de um lago. No Barlavento existem apenas duas localizações mais prováveis que cumprem esses requisitos: Aljezur e Lagos.
Reconstituição da Ria da Aljezur na Antiguidade (clique para aumentar)
Aljezur
Pequena península rochosa que na Antiguidade se rodeava de água por três lados, situação que ainda existia durante a época islâmica, originando o seu topónimo árabe الجزر (ilhas ou penínsulas, segundo A. Khawli). O seu nome anterior é desconhecido.
O lugar teve ocupação na Idade do Ferro e na época romana. Há notícia de um cais de atracagem na parte baixa do povoado, revelando o seu carácter portuário. O vale da ribeira de Cerca seria então um braço de mar navegável.
O aspecto corresponde a um oppidum, sem dúvida céltico devido à localização nesta parte do Sacro. A topografia terá tornado o lugar menos próprio para uma ocupação romana de tipo urbano.
Lagos
A zona de Lagos merece um estudo monográfico de geografia histórica, que está por fazer. Limitamo-nos aqui a esboçar alguns pontos que nos parecem relevantes a priori.
A páleo-fisiografia costeira mostra que a zona Norte da actual cidade de Lagos é a única que possuiu um verdadeiro lago, que se manteve mais ou menos alagado até aos tempos portugueses (daí os topónimos antigos Lago e Lagoa e modernos de Paúl e Sargaçal, para além do próprio nome Lagos).
Pequena península rochosa que na Antiguidade se rodeava de água por três lados, situação que ainda existia durante a época islâmica, originando o seu topónimo árabe الجزر (ilhas ou penínsulas, segundo A. Khawli). O seu nome anterior é desconhecido.
O lugar teve ocupação na Idade do Ferro e na época romana. Há notícia de um cais de atracagem na parte baixa do povoado, revelando o seu carácter portuário. O vale da ribeira de Cerca seria então um braço de mar navegável.
O aspecto corresponde a um oppidum, sem dúvida céltico devido à localização nesta parte do Sacro. A topografia terá tornado o lugar menos próprio para uma ocupação romana de tipo urbano.
Lagos
A zona de Lagos merece um estudo monográfico de geografia histórica, que está por fazer. Limitamo-nos aqui a esboçar alguns pontos que nos parecem relevantes a priori.
A páleo-fisiografia costeira mostra que a zona Norte da actual cidade de Lagos é a única que possuiu um verdadeiro lago, que se manteve mais ou menos alagado até aos tempos portugueses (daí os topónimos antigos Lago e Lagoa e modernos de Paúl e Sargaçal, para além do próprio nome Lagos).
A grande extensão do antigo lago e do seu longo canal de acesso, permite definir geograficamente diversos lugares de assentamento potencial, para além destas ilhas:
No canal:
Em ambas as margens do canal de Lagos, sobretudo na área da cidade actual, entre as antigas ribeiras do Touro e das Naus, têm aparecido vestígios de estabelecimentos de conservas de peixes e material anfórico em grandes quantidades, indicando tratar-se de um provável vicus industrial.
Desconhece-se o estado de sedimentação da margem esquerda na Antiguidade, havendo a hipótese da existência de um porto ou praia de varamento a Sul do Monte Molião.
Molião. Tem sido apontado como o lugar do assentamento céltico ou romano de Lacobriga. De facto, a sua posição no limite da via terrestre oriental e a cavalo sobre o cotovelo do canal, num promontório bem visível e na margem oposta do porto, indicia tratar-se antes de um lugar sagrado, funerário e/ou defensivo.
Descobertas recentes na fachada SO de Molião mostraram a existência de um fosso na base do monte, colmatado com grandes quantidades de cerâmicas romanas republicanas (séc. II a.C.), revelando a presença de populações itálicas pelos seus hábitos de consumo. Terá sido certamente um destacamento militar, revelando a função do local como um castellum ou pequena castra romana, até ao séc. I a.C.
Porto exterior (São João-Horta do Trigo). Lugar onde têm sido encontrados vestígios romanos. Localiza-se no sítio mais provável de destino do aqueduto que estaria ligado à barragem romana da Fonte Coberta, sugerindo a presença de uma fábrica de conservas e, talvez, de uns balneários.
No lago:
Porto interior (Paúl-Portelas). Encontraram-se nesta zona vestígios romanos importantes, reconhecidos como tais desde há séculos, entretanto dispersos ou destruídos pelo que é impossível localizar a sua origem. A tradição da localização de Lacobriga provém de narrativas fantasiosas baseadas nesses achados, desenvolvidas por André de Resende, Frei Vicente Salgado e Silva Lopes.
Península de Garrôcho-Bemparece. Posição estratégica entre o canal marítimo e o lago interior, entre os portos interior e exterior referidos. Possui uma geografia muito semelhante à páleo-península de Tavira, definindo o lugar como modelo de uma possível ocupação fenícia.
Ilhas. Existem indícios topográficos de terem existido nesse lago pelo menos duas ilhas: Casteleja e Paúl, em que pelos menos a primeira apresenta vestígios romanos, para além do seu topónimo de habitat fortificado.
Nos montes próximos:
Alto da Cerca (Cordeira). É o ponto mais dominante a Poente do lago interior, com uma fisiografia e um topónimo que sugerem a hipótese de localização de um oppidum, de consideráveis dimensões.
A zona de Lagos apresenta uma densa ocupação rural romana, disposta ao longo da antiga orla estuarina mas também nas encostas do Barrocal. Esta ocupação manifesta-se sobretudo através de materiais de construção e de sepulturas. Alguns desses locais corresponderão a villae. Existem também extensos vestígios topográficos de uma grande centuriação rural na área de Espiche, menos bem conservada que a de Balsa, mas melhor que a de Ossonoba.No canal:
Em ambas as margens do canal de Lagos, sobretudo na área da cidade actual, entre as antigas ribeiras do Touro e das Naus, têm aparecido vestígios de estabelecimentos de conservas de peixes e material anfórico em grandes quantidades, indicando tratar-se de um provável vicus industrial.
Desconhece-se o estado de sedimentação da margem esquerda na Antiguidade, havendo a hipótese da existência de um porto ou praia de varamento a Sul do Monte Molião.
Molião. Tem sido apontado como o lugar do assentamento céltico ou romano de Lacobriga. De facto, a sua posição no limite da via terrestre oriental e a cavalo sobre o cotovelo do canal, num promontório bem visível e na margem oposta do porto, indicia tratar-se antes de um lugar sagrado, funerário e/ou defensivo.
Descobertas recentes na fachada SO de Molião mostraram a existência de um fosso na base do monte, colmatado com grandes quantidades de cerâmicas romanas republicanas (séc. II a.C.), revelando a presença de populações itálicas pelos seus hábitos de consumo. Terá sido certamente um destacamento militar, revelando a função do local como um castellum ou pequena castra romana, até ao séc. I a.C.
Porto exterior (São João-Horta do Trigo). Lugar onde têm sido encontrados vestígios romanos. Localiza-se no sítio mais provável de destino do aqueduto que estaria ligado à barragem romana da Fonte Coberta, sugerindo a presença de uma fábrica de conservas e, talvez, de uns balneários.
No lago:
Porto interior (Paúl-Portelas). Encontraram-se nesta zona vestígios romanos importantes, reconhecidos como tais desde há séculos, entretanto dispersos ou destruídos pelo que é impossível localizar a sua origem. A tradição da localização de Lacobriga provém de narrativas fantasiosas baseadas nesses achados, desenvolvidas por André de Resende, Frei Vicente Salgado e Silva Lopes.
Península de Garrôcho-Bemparece. Posição estratégica entre o canal marítimo e o lago interior, entre os portos interior e exterior referidos. Possui uma geografia muito semelhante à páleo-península de Tavira, definindo o lugar como modelo de uma possível ocupação fenícia.
Ilhas. Existem indícios topográficos de terem existido nesse lago pelo menos duas ilhas: Casteleja e Paúl, em que pelos menos a primeira apresenta vestígios romanos, para além do seu topónimo de habitat fortificado.
Nos montes próximos:
Alto da Cerca (Cordeira). É o ponto mais dominante a Poente do lago interior, com uma fisiografia e um topónimo que sugerem a hipótese de localização de um oppidum, de consideráveis dimensões.
A Divisio Wambae
O documento designado como Divisio Wambae, que define as delimitações das dioceses visigóticas, refere-se à diocese de Ossonoba nos seguintes termos:
OXONOBA TENEAT DE AMBIA USQUE SALLAM, DE IPSA USQUE TURREM
Sendo uma fonte já muito tardia e de inferior qualidade devido à dificuldade em identificar grande parte dos topónimos, sujeita provavelmente a manipulações nos Sécs. XI ou XII, ela tem por base uma descrição anterior verosímil, datável do Séc. VII, representando assim uma fonte indispensável sobre a toponímia Tardo-Antiga.
A definição de IPSA, nesta época, como território ocidental limítrofe da diocese de Ossonoba significa que Ipses (Alvor) centralizava então todo o Barlavento, desde o Arade ao Cabo de São Vicente e, certamente, desde o mar aos cumes de Monchique. Uma das ilações a retirar é a omissão de Lacobriga.
Lacobriga terá provavelmente desaparecido como cidade, algures a partir do Séc. III ou IV. A ignorância sobre este povoado é total, incluindo a sua localização precisa. Desconhecem-se também as causas do seu desaparecimento, podendo apenas especular-se sobre um eventual paralelismo com Balsa: perda de privilégios marítimos da ordo a partir dos Severos, colmatação da laguna interior, fazendo desaparecer o porto primitivo e graves destruições produzidas por sismos e eventuais maremotos. A ocupação tardo-romana sofreria assim uma profunda alteração, no sentido da desurbanização e eventual abandono dos núcleos Alto-Imperiais, deslocação dos assentamentos rurais no sentido em se ajustarem às novas condições portuárias e estuarinas e, posteriormente, às novas necessidades defensivas.