Entre os achados arqueológicos de Marim destaca-se um tesouro de cem moedas de ouro, de Honório, que é noticiado pela primeira vez em 1786:
Descrição das cem medalhas de ouro que se acharam ultimamente no sitio de Marim. Termo de Faro no Algarve.
Cada uma das medalhas tem na parte principal esta inscrição: - D.N. HONORIVS P. F. AUG. com o busto do imperador coroado do Diadema: no reverso uma figura militar com o estandarte dos romanos chamado lábaro na mão direita e, na esquerda, a figura da Vitória, pondo-lhe uma coroa; debaixo do pé esquerdo, a figura de um cativo; e a inscrição - VICTORIA. AUGGG. COMOB e na área - M.D.
Todas estas medalhas se acham perfeitamente conservadas e parecem feitas na mesma fábrica.
Por esta descrição é possível identificar as moedas como solidii (valor facial de 1/72 libra=4.54 g de ouro) correspondentes às referências numismáticas RIC 1206 e Depeyrot 16/2, cunhados em Mediolanum (Milão) entre 395 e 402.
O facto das moedas serem todas idênticas e estarem em condição prístina significa que nunca circularam, tendo chegado a Marim directamente da oficina de cunhagem ou de um depósito intermediário.
Tratar-se-á assim, não de uma quantia privada acumulada pelo possessor local, mas de uma dotação financeira estatal, revelando o carácter oficial e público das instalações de Marim em inícios do séc. V e o seu valor logístico estratégico na política territorial de Honório. O achado constitui uma confirmação importante do carácter público do assentamento no Baixo-Império, já revelado pela sua organização topográfica.
A ocultação terá provavelmente ocorrido entre 407 e 409, na sequência da usurpação de Constantino III na Britannia e na Gália, durante a sua tentativa de conquista da Hispania. Constantino nomeou então uma nova leva de governadores e administradores provinciais, obrigando a hierarquia fiel a Honório à demissão.
Esta situação foi aceite de um modo geral com obediência, com excepção da Lusitânia, onde o a família Teodosiana, ligada á casa imperial, estabeleceu uma resistência armada ao usurpador, primeiro com os eventuais restos do exército regular e depois financiando e formando um exército privado com as suas clientelas e dependentes. Este facto obrigou Constantino a reforçar a sua força hispânica com um exército de auxiliares bárbaros proveniente da Gália, comandado por Gerontius, que finalmente derrotou a força lealista em 409.
O tesouro terá sido ocultado ou como consequência das nomeações do usurpador ou pela confrontação que se lhe seguiu. A derrota do partido de Honório, a quem sem dúvida pertencia o prócere de Marim, terá impedido a sua recuperação, assinalando uma descontinuidade político-administrativa nesta época, que na realidade veio corresponder ao final do poder regular do Estado Romano na região, devido á invasão da Hispania por uma confederação de Alanos, Suevos e Vândalos.
É impossível determinar se os 100 solidii terão sido parte da dotação financeira regular devida pelo Império à manutenção da estrutura administrativa-portuária do officium de Marim, ou se revelam já as consequências da usurpação de Constantino, constituindo parte de verbas extraordinárias destinadas a garantir a lealdade local á casa imperial.