Assimetrias regionais dos cultos em Portugal Continental, através da toponímia das dedicações e dos atributos de âmbito religioso.
Experimentação para um eventual estudo, se houver interesse.
Uma das temáticas mais interessantes e promissoras em Geografia Histórica é o estudo da toponímia de âmbito religioso, como indicador fundamental das assimetrias histórico-religiosas do território nacional.
A toponímia não esgota a realidade da geografia religiosa, nomeadamente a multiplicidade das dedicações e locais de culto sem expressão toponímica. Ela traduz porém os seus aspectos mais significativos, consolidados historicamente através da sua atribuição a nomes de lugar.
Existe uma enorme assimetria regional na densidade de topónimos em Portugal Continental, que reflecte a correspondente assimetria na densidade e dispersão do povoamento entre c. 1700 e c. 1970.
Nos estudos de geografia toponímica os indicadores devem portanto ser corrigidos dessa assimetria.
O modo mais simples de o fazer é relativizar o número de topónimos em estudo, dividindo-o pelo número total de topónimos existentes na mesma área territorial.
Para o efeito pode definir-se uma quadrícula convencional (15x15km no presente caso), sobre a qual se calcula a razão das contagens de topónimos existente em cada célula, sem corrigir para já os casos aberrantes que surgem nas zonas de fronteira.
É o método mais primitivo de representação cartográfica de densidades locais, mas que não perde eficácia interpretativa.
O mapa 1 revela um fenómeno já intuído: que a toponímia religiosa é significativamente mais importante no norte "neo-godo" do que no sul "moçárabe" relativamente ao total de topónimos, reflectindo a menor importância cultural do fenómeno religioso no Sul, apesar da sua maior relevância (esperada e verificada) na áreas de capitalidade administrativa, que se constituíram como centros de concentração de colonização e de poder central.
Mapa 1. Topónimos de âmbito religioso (totais) relativamente ao total de topónimos
Os mapas 2 e 3 revelam que os cultos Marianos e hagiológicos totais estão difundidos espacialmente por todo o país.
A base do cálculo é a totalidade dos topónimos associáveis a entidades religiosas de índole sobrenatural (por oposição a entidades institucionais, étnicas e pessoais, que são excluídas). Apesar disso o culto dos santos continua a ser absolutamente dominante, sobretudo no Sul, onde os ganhos significativos do "marianismo" ortodoxo pós-trentino não foram suficientes para o destronar.
Mapa 2. Topónimos de âmbito religioso (entidades e atributos sobrenaturais) com dedicação ou atributo Mariânico
Mapa 3. Topónimos de âmbito religioso (entidades e atributos sobrenaturais) com dedicação ou atributo hagiográfico
Com a mesma base, o mapa 4, revela porém que os cultos cristológicos pertencem esmagadormente à matriz cultural do Norte.
Mapa 4. Topónimos de âmbito religioso (entidades e atributos sobrenaturais) com dedicação ou atributo Cristológico
Ainda com a mesma base, o mapa 5 revela que os cultos aquáticos de raiz naturalista têm pelo contrário um maior peso no Sul, o que está de acordo com o que se conhece da tradição moçárabe-islâmica existente até c. 1500.
Mapa 5. Topónimos de âmbito religoso (entidades e atributos sobrenaturais) com corónimo ou corótipo extra-linguístico associado a recurso hidrográfico
Fontes primárias
Topónimos
- Reportório Toponímico de Portugal (versão digital em CD), IGEOE, Lisboa, 1999. Dados não corrigidos
Base geográfica (mapa de Portugal Continental)
- Limites concelhios e nacionais, orografia e hidrografia fundamentais: IGEOE, s/d.
- Limites histórico-linguísticos da expansão meridional do galaico-português (proxi da divisão geográfica entre "O Norte" e "O Sul"). "Estudos de Dialectologia Portuguesa"; L. Lindley Cintra, Sá da Costa, Lisboa, 1983.
Experimentação para um eventual estudo, se houver interesse.
Uma das temáticas mais interessantes e promissoras em Geografia Histórica é o estudo da toponímia de âmbito religioso, como indicador fundamental das assimetrias histórico-religiosas do território nacional.
A toponímia não esgota a realidade da geografia religiosa, nomeadamente a multiplicidade das dedicações e locais de culto sem expressão toponímica. Ela traduz porém os seus aspectos mais significativos, consolidados historicamente através da sua atribuição a nomes de lugar.
Existe uma enorme assimetria regional na densidade de topónimos em Portugal Continental, que reflecte a correspondente assimetria na densidade e dispersão do povoamento entre c. 1700 e c. 1970.
Nos estudos de geografia toponímica os indicadores devem portanto ser corrigidos dessa assimetria.
O modo mais simples de o fazer é relativizar o número de topónimos em estudo, dividindo-o pelo número total de topónimos existentes na mesma área territorial.
Para o efeito pode definir-se uma quadrícula convencional (15x15km no presente caso), sobre a qual se calcula a razão das contagens de topónimos existente em cada célula, sem corrigir para já os casos aberrantes que surgem nas zonas de fronteira.
É o método mais primitivo de representação cartográfica de densidades locais, mas que não perde eficácia interpretativa.
O mapa 1 revela um fenómeno já intuído: que a toponímia religiosa é significativamente mais importante no norte "neo-godo" do que no sul "moçárabe" relativamente ao total de topónimos, reflectindo a menor importância cultural do fenómeno religioso no Sul, apesar da sua maior relevância (esperada e verificada) na áreas de capitalidade administrativa, que se constituíram como centros de concentração de colonização e de poder central.
Mapa 1. Topónimos de âmbito religioso (totais) relativamente ao total de topónimos
Os mapas 2 e 3 revelam que os cultos Marianos e hagiológicos totais estão difundidos espacialmente por todo o país.
A base do cálculo é a totalidade dos topónimos associáveis a entidades religiosas de índole sobrenatural (por oposição a entidades institucionais, étnicas e pessoais, que são excluídas). Apesar disso o culto dos santos continua a ser absolutamente dominante, sobretudo no Sul, onde os ganhos significativos do "marianismo" ortodoxo pós-trentino não foram suficientes para o destronar.
Mapa 2. Topónimos de âmbito religioso (entidades e atributos sobrenaturais) com dedicação ou atributo Mariânico
Mapa 3. Topónimos de âmbito religioso (entidades e atributos sobrenaturais) com dedicação ou atributo hagiográfico
Com a mesma base, o mapa 4, revela porém que os cultos cristológicos pertencem esmagadormente à matriz cultural do Norte.
Mapa 4. Topónimos de âmbito religioso (entidades e atributos sobrenaturais) com dedicação ou atributo Cristológico
Ainda com a mesma base, o mapa 5 revela que os cultos aquáticos de raiz naturalista têm pelo contrário um maior peso no Sul, o que está de acordo com o que se conhece da tradição moçárabe-islâmica existente até c. 1500.
Mapa 5. Topónimos de âmbito religoso (entidades e atributos sobrenaturais) com corónimo ou corótipo extra-linguístico associado a recurso hidrográfico
Fontes primárias
Topónimos
- Reportório Toponímico de Portugal (versão digital em CD), IGEOE, Lisboa, 1999. Dados não corrigidos
Base geográfica (mapa de Portugal Continental)
- Limites concelhios e nacionais, orografia e hidrografia fundamentais: IGEOE, s/d.
- Limites histórico-linguísticos da expansão meridional do galaico-português (proxi da divisão geográfica entre "O Norte" e "O Sul"). "Estudos de Dialectologia Portuguesa"; L. Lindley Cintra, Sá da Costa, Lisboa, 1983.