A abonação local mais antiga corresponde a uma fonte árabe do séc. XI, em que surge definido como alcaria (aldeia, lugarejo) de Burtimûn.
`umdat aTTabîb fî ma´rifat annabât , obra cujo título se traduz por "O fundamental para o médico no conhecimento das plantas", Rabat, 1990, T. II, p. 656, do botânico do século XI, Abû al-Khayr al-Ichbîlî, que diz: "Vi este tipo [uma planta chamada Qâqillî] na região de Silves numa alcaria chamada Burtimûn". (informação de Abdallah Khawli).
Em 1189, o cruzado anónimo alemão, autor da narrativa da conquista de Silves, refere-se ao castelo de Porcimunt. (o c por t corresponde a um erro comum de copista).
Ed. João da Silva Lopes, 1844, p. 42 (214). A cidade de Silves num itinerário naval do século XII por um cruzado anónimo, Lisboa. Ed. fac-simile, Távola Redonda, Lisboa 1999.
O étimo moçárabe provável terá sido *Portiman, evolução de Portus Magnus.
O topónimo Portus Magnus está registado em diversos lugares do Império Romano, nomeadamente na Mauretania Caesariensis (Bettioua, na Argélia) e na Hispania Terraconensis, na zona de Almeria, onde surge ainda no séc. XII sob a forma árabe Bortmán , segundo Idrîsî, IV,1.
O nome podia referir-se inicialmente ao espaço aquático (como o Portus Magnus de Alexandria) ou então, a um assentamento portuário, passando posteriormente a designar o rio.
De facto o estuário ainda se designava no século XIX como Rio Portimão (sem preposição), distinto do Arade, que terminava na confluência da ribeira de Boina ou na de Odelouca. A própria designação Vila Nova de Portimão revela a existência do topónimo anterior.
Na época romana existiriam pelo menos cinco lugares associáveis a funções portuárias:
- Portimões, estação romana de salga de peixe. O sítio de Portimões (ou da Estrumal, ou das Casinhas dos Mouros) ( Maria Luísa Santos, Arqueologia Romana do Algarve, vol. I, Associação de Arqueólogos Portugueses, Lisboa 1971, p. 128) é corónimo derivado de antropónimo familiar português, no plural, forma comum no Algarve (Giões, etc.). O antropónimo ter-se-á formado, por sua vez, a partir do hidrónimo na vizinhança da habitação.
- Ferragudo, nome de possível etimologia árabe (em estudo), provável vicus piscatório com ocupação anterior da Idade do Ferro e posteriormente aldeia fortificada no período islâmico.
"...estão uns aposentos a que chamam Ferragudo, que eram muito principais, e nos edifícios, ainda que estão caídos, se mostra a grandeza deles, porque era cercado de muros, e com casas de sete ou outo moradores, que se metiam umas por outras, feitas com muita curiosidade, e os baixos delas corriam ao longo do rio. os muros estão em muitas partes derribados e as casas caídas; de crer é que o intento foi maior, que o efeito" (Henrique F. Sarrão, História do Reino do Algarve, 1607, p. 156, in Duas descrições do Algarve do Século XVI, (ed. M. Viegas Guerreiro e J. Romero Magalhães), Cadernos da Revista de História Económica e Social (3), Sá da Costa, Lisboa 1983, p .133-182
Será esta possivelmente a localização da qaria de Burtimûn, convertida posteriormente em hisn pois Porcimunt é já referido como castelo na "narrativa" do cruzado anónimo. O castelo poderá ter-se localizado onde mais tarde se edificaria o forte de São João do Arade. No entanto, o topónimo Castelos na parte ocidental da Praia da Rocha poderá ser uma localização alternativa. - A enseada da Mexilhoeirinha (Mexilhoeira da Carregação), o melhor cais natural do Algarve, capaz de dar calado de atracagem aos maiores navios da época.
No terminal das vias romanas proveniente de Ossonoba e de Messines, seria o Portus Magnus propriamente dito, lugar de embarque da travessia do rio para a margem direita. Manteve esta função até finais do séc. XVIII, quando o bispo Gomes de Avelar fez construir a Calçada da Barca, antepassada da estrada de Portimão pela ponte velha .
A ponta da Carregação define a extremidade Sul de uma longa e estreita enseada em arco regular. Este local teria, quanto a nós, as condições ideias para um porto interior romano, resguardado das tempestades marítimas em qualquer vento. Na época o rio teria aqui (a sul do Cabeço de Garcias) uma largura cerca de três vezes superior à actual, abrangendo os sapais secos da margem direita, na confluência com a ribeira de Boina.
Entre a ponta da Carregação e a Quinta do Parchal define-se uma segunda área portuária, cuja parte mais protegida se assoreou, delimitada por armazéns e cais de carregação sobre a margem actual. - O Ilhéu do Rosário, pequeno habitat na margem esquerda da ribeira de Odelouca, na sua confluência com a ribeira de Arade, com ocupação desde o período romano republicano. O valor portuário é diminuto mas ocupa uma posição estratégica no controlo da navegação fluvial, como entreposto comercial, estação da via fluvial ou posto fiscal.
A notícia de Leite de Vasconcellos sobre a existência na ilha de uma venda de bebidas revela a sobrevivência dessa função ainda em 1917. (De Terra em Terra. Excursões arqueológico-etnográficas, Lisboa 1927: vol. II, p. 257-259).
A presença na ilha de um oratório com a imagem da Senhora do Rosário (origem do topónimo actual) pode revelar uma localização religiosa anterior, tendo assim também uma função de santuário fluvial. - O sítio de Cilpes (península da Rocha Branca) na ribeira de Arade. Igualmente identificado no papiro de Artemidoro, como Kilibe. Povoado Proto-Histórico fortificado com influência orientalizante, sede dos *Cilibitani (Cibilitani em Plínio, IV, 35). Cunha moeda com a legenda Cilpes. O nome turdetano original seria *Cilipis.
O sítio corresponderá ao lugar central pré-romano de uma civitas que se manteve durante o Império, cujo nome originou posteriormente Xîlb na Época Islâmica e depois Silves. Desconhece-se o centro urbano romano correspondente à capital desta civitas.
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