Resumo
Este post identifica de forma sistematizada e exaustiva os itinerários terrestres descritos em Itinerarium provinciarum Antonini Augusti, documento da Antiguidade romana vulgarmente conhecido por "Itinerário de Antonino" ou, mais propriamente, por "Itinerários de Antonino".
Faz parte de um projecto pessoal, de organizar os Itinerários numa base de dados relacional associada a um sistema de informação geográfico.
This post identifies in a systematic and exhaustive way the land itineraries described in Itinerarium provinciarum Antonini Augusti, a document from Roman Antiquity usually known as "Antonine Itinerary".
It is part of a personal project of organizing the "Itinerary" into a relational databese associated to a geographic information system.
Os Itinerários de Antonino são um roteiro de itinerários terrestre e navais, compilado entre 286 e 310 (Reed 1978) e escrito em Latim.
Os manuscritos conhecidos mais antigos são dos séc. VII e VIII e correspondem a cópias diferentes de um original perdido.
Sai fora do âmbito deste post expôr as teorias e a análise crítica sobre o significado e funções dos itinerários na época romana, que terão levado à feitura do roteiro.
Conceitos
Roteiro
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Colecção/lista de itinerários.
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Itinerário
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Percurso entre uma origem e um destino, passando normalmente por pontos intermédios referenciados. Um itinerário efectua-se sobre uma estrada física mas é conceptualmente distinto desta. De facto, um itinerário corresponde a um plano de viagem por uma rede viária existente. Parte da rede pode ficar assim excluída de qualquer passagem enquanto outra parte pode ser percorrida em vários itinerários.
Um roteiro só reflecte integralmente uma rede viária quando é constituído por itinerários que percorrem exaustivamente essa rede, com ou sem redundância.
O rigor do ajustamento do percurso à estrada percorrida é proporcional ao número de pontos intermédios localizados e ao conhecimento independente dos eixos viários existentes.
Um itinerário de Antonino é formado pela mansio inicial e por um nº variável de etapas. A mansio da última etapa é a mansio final.
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Mansio
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Pl. mansiones. Em sentido geral são as povoações ou sítios de passagem dos itinerários, referidos no roteiro. Em sentido estrito são lugares com instalações de pernoita para viajantes oficiais do Estado romano. Alguns autores usam o termo estação viária como sinónimo ou substituto.
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Mansio inicial
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Ponto de origem do itinerário.
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Mansio final
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Ponto de destino do itinerário.
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Mansio intermédia
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Ponto de passagem intermédia do itinerário.
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Etapa
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Trajecto/percurso entre a mansio da etapa anterior e a mansio seguinte, no final da etapa corrente. O trajecto e a mansio final fazem parte da etapa.
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Extensão/distância
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Comprimento de uma etapa ou da soma das etapas de um itinerário. Distância entre duas mansiones. O valor das distâncias é definido nos Itinerários de Antonino em unidades de comprimento da época: milia passuum (milha romana), leuga (légua gaulesa) e stadium (estádio grego). Esses valores estão sujeitos a diversos tipos de erros de medição e de transmissão documental.
Distinguem-se habitualmente três medidas da distância entre duas mansiones: distância documental, distância ortodrómica e extensões de traçados viários concretos.
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Subitinerário
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Itinerário que é uma parcela de um itinerário maior. A concatenação de subitinerários sequenciais produz o itinerário maior.
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Itinerário composto
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Itinerário constituido por dois ou mais subitinerários.
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Troço repetido
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Parte de uma estrada percorrida em mais de um itinerário.
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Traçado
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Traçado geográfico do eixo da estrada por onde corre o itinerário. Pode ser uma interpolação linear, uma generalização geográfica ou uma implantação topográfica, segundo a escala, o rigor e a precisão.
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Implantação geográfica
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Localização geográfica das mansiones e do traçado das estradas. A localização das mansiones ou dos pontos medidos no itinerário pode não corresponder à localização da povoação que tem o mesmo nome.
A implantação geográfico dos Itinerários de Antoninos continua e continuará a ser uma questão em aberto, dependente da densidade e da precisão dos estudos subjacentes sobre a rede viária romana em toda a extensão do Império.
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Organização da tabela
Linhas
A. Com fundo amarelo
Divisões geográficas do texto original. Dizem respeito aos itinerários das linhas seguintes
B. Restantes
Itinerários individuais. Podem ser de quatro tipos
1. Simples
2. Compostos
Constituídos por subitinerários nas linhas seguintes, cujos títulos (coluna 5) estão destacados relativamente ao título do itinerário composto respectivo.
São descritos nas notas (coluna 9)
3. Subitinerários sequenciais do itinerário composto anterior
Podem ser de quatro tipos:
S1 Explícitos no título e com linhas de subtítulo com distâncias parciais
S2 Explícitos no título pela preposição INDE
S3 Implícitos por partição de um itinerário: iniciam-se por uma etapa naval seguida de um subitinerário terrestre (it. 317.3)
S4 Implícitos por junção de dois itinerários consecutivos: o percurso do 2º continua o 1º e: ou o 2º se inicia por etapa marítima (it. 333.2) ou é o prolongamento de um subitinerário anterior (it. 256.1)
São descritos e enumerados nas notas (coluna 9).
4. Subitinerários alternativos do itinerário composto anterior
Podem ser de dois tipos:
A1 Mansio inicial distinta seguida por subitinerário comum. Cada Mansio inicial produz um subitinerário alternativo.
A2 Uma ou mais etapas intermédias alternativas, entre duas mansiones intermédias comuns. Cada troço alternativo produz um subitinerário correspondente.
São descritos nas notas (coluna 9).
Colunas
1. Nº de Wesseling
Identifica de forma única cada linha do texto original, fixado na edição de P. Wesseling (1735). Corresponde à combinação do nº da página do texto e do nº da linha do texto na página, na referida edição.
«Nº de Wesseling» = «nº página».«nº linha na página»
O nº de Wesseling é usado com dois sentidos na tabela:
- Para identificar cada itinerário a partir do nº da primeira linha do seu título ou, caso este seja omisso, da linha da 1ª mansio.
- Para identificar mansiones ou etapas específicas.
2. Nº de Löhberg
Nomenclatura desenvolvida por B. Löhberg (2006). Compõe-se de quatro níveis alfanuméricos.
3. Dioceses, províncias ou grupos de províncias romanas atravessadas pelos itinerários.
Referentes às reformas de Diocleciano e Constantino, segundo Laterculus Veronensis (303-324 n.e.).
Implantação geográfica de Talbert (2000), p. 101.
AF
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Africa e Mauritania Tingitana
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OF
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Oriente africano (Aegiptus e Cyrenaica)
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OA
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Oriente asiático (Médio Oriente)
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PO
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Pontus
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AS
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Asia
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TR
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Thracia
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MO
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Moesia
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PA
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Pannonia
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IT
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Italia
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SA, CO, SI
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Ilhas italianas (Sicilia, Corsica, Sardinia)
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VI
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Viennense
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GA
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Gallia
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BR
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Britannia
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HI
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Hispania, excepto Mauritania Tingitana
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Nota: Na versão corrente está coluna está incompleta!
4. Meio de transporte
T Terrestre
N Naval. Descritos nas notas (coluna 9)
M Misto, com uma etapa naval. Descritos nas notas (coluna 9)
5. Título original latino do itinerário
Entre [] partes reconstituídas, omissas no texto.
Subitinerários em coluna destacada sob os itinerários compostos respectivos (ver acima linhas).
6-7. Nomes-padrão das mansiones inicial e final do itinerário
Segundo Talbert 2000 e Löhberg 2006
8. Extensão do itinerário no texto original.
Valores não corrigidos, em milhas romanas (milia passuum = m.p). 1 Milha = 1481.5 m
Certos itinerários gauleses têm etapas medidas em leugae (leuga = le.). 1 Légua gaulesa = 1.5 m.p.
As etapas navais são medidas em stadia (stadium = st.). 1 Estádio = 0.125 m.p.
Estes casos são referidos nas notas (coluna 9) e convertidos em m.p.
9. Notas
Não incluem a identificação sistemática de troços partilhados por mais de um itinerário.
Bibliografia
Petrus Wesseling, Vetera Romanorum Itineraria, sive Antonini Augusti Itinerarium, Itinerarium Hierosolymitanum, et Hieroclis Grammatici Synecdemus, Amsterdam 1735
Otto Cuntz (ed.), Itineraria Romana. Vol. I: Itineraria Antonini Augusti et Burdigalense, Stuttgart 1929 (1990)
R. J .A. Talbert (ed.), Barrington Atlas of the Greek and Roman World ,Princeton and Oxford 2000
Bernd Löhberg, Das "Itinerarium provinciarum Antonini Augusti". Ein kaiserzeitliches Straβenverzeichnis des Römischen Reiches. Überlieferung, Strecken, Kommentare, Karten, 2 vols., Berlin 2006
Denis van Berchem, "La annona militar en el Imperio Romano en el siglo III" in Anexos de El Miliario Extravagante, 4 (Dec. 2002), pp. 3-30
Denis van Berchem, "Los itinerarios de Caracalla y el Itinerario Antonino" in Anexos de El Miliario Extravagante, 4 (Dec. 2002), pp. 31-39
Nicholas Reed, "Pattern and Purpose in the Antonine Itinerary" in The American Journal of Philology, Vol. 99, No. 2 (Summer, 1978), pp.228-254
Raymond Chevallier, Les voies romaines, Paris 1997
Pierre Herrmann, Itinéraires des voies romaines de l'Antiquité au Moyen Âge, Paris 2007
Benet Salway, "Travel, Itineraria and Tabellaria" in (ed. Colin Adams & Ray Laurence) Travel and Geography in the Roman Empire, Routledge, London 2001; p. 22-66.
Pascal Arnaud, "L'Itinéraire d'Antonin: un témoin de la littérature itinéraire du Bas-Empire" , Geographia Antiqua, 2, 1993; p. 33-50.
Pascal Arnaud, "Entre Antiquité et Moyen-Âge: l'Itinéraire Maritime d'Antonin" in (ed. Lorenza de Maria) Rotte e Porti del Mediterraneo dopo la caduta dell'Impero Romano d'Occidente, Rubbettino, Génova 2004; p. 3-20.
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